A vida consiste em som. Continuamente estamos cercados de sons e ruídos oriundos da natureza e das várias formas de vida que ela produz. A própria natureza nos dá uma ilustração maravilhosa da música.

ELA ESTÁ CHEIA DE SONS,

de ritmos, de acordes perfeitos, harmonias sonoras, sonantes, dissonantes, compassos e cadências marcadas pela própria ação manifesta da Criação de Deus; o que dela fazemos varia conforme o temperamento, a educação, o povo, a raça e a época. (Todas as tuas obras te louvarão, ó Senhor; os teus santos te bendirão. Sl. 145:10; Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus. Louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e logo foram criados… Sl 148:1-13). 

Imaginem vocês, que há milhões de anos atrás, antes mesmo que houvessem ouvidos humanos para captar a música e sons, já borbulhavam as águas, ribombavam os trovões, sussurravam as folhas ao vento… Quem sabe, quantos outros sons não se propagaram neste encontro de notas, harmonias, melodias perfeitas, ritmos cadenciados, completando a composição sinfônica do Universo, da criação … Talvez cantassem os raios do sol nas montanhas que se aqueciam todas as manhãs, como ainda hoje cantam misteriosamente nas colunas egípcias de Memnon; durante tempos sem fim deve ter ressoado o órgão natural da gruta de Fíngal, muito antes que os Celtas lhe chamassem “Ilhaimh bin” Gruta da música, e muito antes, ainda, que um compositor romântico, chamado Mendelssohn, transferisse aqueles sons naturais para a moderna orquestra. “A terra a abrir-se na mocidade, as fontes a jorrar, os vulcões e as montanhas a explodir, as águas do dilúvio a subir, tudo deve ter constituído gigantesca sinfonia que ninguém nos descreveu detalhadamente nos termos da  música...”. 

Vejamos a criação: (Gn. Cap. 1 / obs. V. 2): “A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” – SILÊNCIO / PAUSA / MÚSICA. O homem nasceu em um mundo repleto de sons. Os trovões, amedrontando-o, tornou-se símbolo dos poderes celestiais. No ulular dos ventos percebia, ele a voz dos demônios. Os habitantes do litoral conheciam o mau ou bom humor dos seus deuses, pelo bramir das águas (segundo suas crenças). Os ecos eram oráculos e as vozes dos animais revelações. Religião e música mantiveram-se inesperavelmente ligadas nos antigos tempos da humanidade e ainda nos dias atuais. 

Grande foi sempre a influência da música sobre a mente humana. O homem primitivo dispõe apenas de poucas palavras. Quase somente o que ele vê é que tem nome, para exprimir os sentimentos, serve-se de sons e cria a música que o ajuda a exteriorizar o júbilo, a tristeza, o amor, os instintos, a crença nos poderes supremo e a vontade de dançar, mover-se. Para ele é parte da vida a música, desde o acalanto, a alegria, o frenesi das emoções, até a elegia fúnebre, desde a dança ritual até a cura dos doentes pela melodia e pelo ritmo (musicoterapia).

Na literatura moderna, deparam-se-nos numerosas obras de psicologia profunda em que as mais fortes excitações sentimentais são provocadas pela influência da música. Com exceção de “Werther”, nenhuma outra obra de arte originou semelhante onda de melancolia e suicídio como o “Tristão e Isolda”, de Wagner. A música age sobre o indivíduo e a massa; encontra-se não somente na história das revoluções senão também nas psicoses de guerra. A música é nas mãos do homem um feitiço, bênção ou maldição; o seu efeito se estende desde o despertar dos mais nobres sentimentos até o desencadeamento dos mais baixos instintos, desde a concentração devotada até a perda da consciência que parece embriaguez, desde a veneração religiosa até a mais brutal sensualidade. A música tem inúmera facetas. 

Deus tem restaurado as artes como expressão do Seu Louvor e da Sua Glória. Neste sentido, vemos as mais variadas manifestações das artes sendo impregnadas em nossas igrejas de forma marcante. 

Adorar é ofertar a quem é o legítimo doador de todas as coisas. A esse Deus benevolente deve se oferecer o melhor sacrifício de louvor (veja Hebreus 13: 15-16), sem esquivar-se ao valor (veja II Samuel 24:20-24). Porque a adoração é um doar e um doar-se a Deus. Haverá bênçãos e satisfações, mas serão frutos benéficos dessa piedosa e transformadora doação humana. 

Todo este sentido da arte como parte da adoração da igreja pode, todavia, apreciar-se melhor à luz da notável sentença de William Temple: "Adoração é a submissão de todo nosso ser a Deus. É tomar consciência de sua santidade; é o sustento da mente com sua verdade; é a purificação da imaginação por sua beleza; é a abertura do coração a seu amor; é a rendição da vontade a seus propósitos. E tudo isto se traduz em louvor, a mais íntima emoção, o melhor remédio para o egoísmo que é o pecado original”.

Pr. Eduardo Itaborahy